VIDAS QUE INSPIRAM

Da Polônia a Goiás: a força que venceu a guerra

Este ano, o Holocausto completa 80 anos. O genocídio transformou Auschwitz no palco de 6 milhões de assassinatos de judeus e, para além disso, o regime nazista vitimou milhares de famílias, marcando para sempre o destino de quem sobreviveu às suas garras tiranas.
Nos sobreviventes, encontramos a força, a coragem, a cultura e a resiliência que atravessam gerações e permitem que a história ganhe novos protagonistas e seja constantemente reescrita.

Entre essas histórias, está a da Servidora do Judiciário goiano Wanda Wilk Guimarães, que atua há mais de 30 anos no Tribunal de Justiça de Goiás. Nascida e criada em Goiânia, ela carrega em suas raízes um dos capítulos mais tristes da história mundial.

Seus pais, Roman e Teodora, poloneses, chegaram ao Brasil em 1949, trazendo o filho mais velho, com apenas um ano de idade, pouco depois do fim da 2ª Guerra Mundial. Vítimas diretas da tirania de Hitler, encontraram aqui a chance de reconstruir a vida.

“No pós-guerra, eles se casaram, escolheram o Brasil para recomeçar e fugir das sombras do Holocausto. Quando chegaram, aprenderam a falar usando um caderninho e um lápis. Fizeram muitos amigos. Na minha casa, sempre tinha pão caseiro dia sim, dia não, e os vizinhos vinham lanchar com a gente”, relembra Wanda.

Caçula de seis filhos, Wanda preserva as memórias e o legado dos pais. Eles vieram ao Brasil por meio de um programa de acolhimento a vítimas do Holocausto, que oferecia seis meses gratuitos de moradia e alimentação. Assim começou a trajetória da família Wilk no país: vida dura, mas repleta de ternura e superação.

Serviço público

Estudante de escola pública, Wanda sempre sonhou em ser Servidora. Formou-se em Direito, tornou-se professora e trabalhou em projetos de alfabetização e atendimento a pessoas em situação de rua, até ser aprovada em concurso para o Tribunal de Justiça de Goiás — conquista que encheu de orgulho seus pais. Atualmente, atua como analista na Diretoria Financeira e cursa mestrado.

O trabalho e a perseverança estão entre seus valores mais fortes, aprendidos com o pai, que cultivava hortas e fazia de tudo para oferecer o melhor à família. Outra herança foi a fé, sempre presente na vida de todos.

Foram a fé e a persistência que permitiram a Roman reencontrar sua mãe, após seis anos no Brasil. Enquanto ela o procurava em cemitérios na Polônia e na Alemanha, ele enviava cartas para um endereço que já não existia devido à divisão do país. Um dia, finalmente, a mensagem chegou às mãos dela.

Wanda nunca conheceu a avó, mas conheceu a Polônia. Viajou ao país com a mãe e, mais tarde, com o marido, o engenheiro Paulo, e os filhos Djalma, Ronan e Igor. Formou assim uma nova árvore genealógica e transmitiu à família que construiu o amor pelas tradições polonesas, pela culinária típica e por palavras que atravessaram o oceano junto com a história de seus pais.

Uma vida que prova que, mesmo diante da dor, é possível reconstruir e transformar. E que as raízes, por mais distantes que estejam, continuam a florescer.

Assessoria de Comunicação do SINDJUSTIÇA | Ampli Comunicação