Serviço argumenta que usuários dos novos produtos terão acesso a mais procedimentos, além da possibilidade de reclamação à ANS. Migração não é obrigatória
Os novos planos do Serviço Social Autônomo de Assistência à Saúde dos Servidores Públicos do Estado de Goias (Ipasgo Saúde), criados após o registro da instituição na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), são mais caros do que os planos já oferecidos pelo serviço. Mensalidades para acomodação em enfermaria de pessoas de 59 anos ou mais ultrapassam R$ 1 mil. O Ipasgo argumenta que usuários dos novos planos terão acesso a mais procedimentos, além da possibilidade de reclamação à ANS. Pessoas que usam algum dos planos já disponíveis não são obrigadas a fazer migração.
As adesões e migrações para os novos planos do Ipasgo começaram nesta terça-feira (29). Até então, o serviço só oferecia dois tipos de planos: o Básico, com leito tipo enfermaria, e o Especial, com leito tipo apartamento. Nesses planos, o usuário paga a mensalidade via tabela atuarial, ou seja, com base em um valor determinado para cada faixa etária, ou via alíquota (mínima ou máxima) sobre o vencimento.
O valor máximo via tabela atuarial no plano Básico é de R$ 691,10, para pessoas de 59 anos ou mais. No plano Especial, é de R$ 1.038,53, também para pessoas de idade igual ou superior a 59 anos. Via alíquota, a cobrança máxim a para usuários do plano Básico é de R$ 785,46. No plano Especial, é de R$ 1.168,60. Os valores foram atualizados no final de 2024 e passaram a ser praticados em janeiro de 2025.
Os dois novos planos do Ipasgo, Cerrado e Família, só oferecem leito tipo enfermaria. A expectativa é de que o leito tipo apartamento seja ofertado a partir do segundo semestre deste ano. O diretor de Relacionamento e Produtos do Ipasgo, Rafael Luz, explica que os dois novos planos são iguais em termos de rede de atendimento e área de abrangência. A diferença é que o plano Cerrado se destina ao servidor, cônjuge e filhos até 21 anos e o plano Família alcança até o terceiro grau de consanguinidade como, por exemplo, netos. Em ambos os planos, a cobrança acontece via tabela atuarial. O valor máximo para o plano Cerrado é de R$ 1.025,40 para pessoas com 59 anos ou mais. Para o plano Família, a mensalidade mais alta é de R$ 1.159,34 para quem tem idade igual ou superior a 59 anos.
Contras
Levando em consideração os dois planos mais baratos do Ipasgo — antigo e novo -, o custo é mais alto para quem é usuário do plano recém-lançado. Para a faixa etária com a maior mensalidade (59 anos ou mais), o valor do plano Cerrado é 48,3% maior do que o do plano Básico, sendo que ambos oferecem leito tipo enfermaria (confira a comparação para todas as faixas etárias).

O diretor de Relacionamento e Produtos do Ipasgo esclarece que, para definir os valores, foi levado em conta um estudo atuarial, com índice de sinistralidade por faixa etária e o custo médio de cada usuário.
Luz defende que os preços estão abaixo do mercado. “Até porque a finalidade do Ipasgo não é ter lucro”, frisa. O POPULAR consultou o valor de outro plano de saúde com abrangência estadual, coparticipação de 30%, leito tipo enfermaria e perfil empresarial e, em algumas faixas etárias, o valor da mensalidade do Ipasgo apresentou diferença de apenas algumas dezenas de reais.
Além dos valores menores, os planos Básico e Especial contam com previsão de reembolso para urgências e emergências ocorridas fora de Goiás. Dessa forma, caso um usuário do Ipasgo passe mal em outro Estado, ele pode procurar uma unidade privada e depois apresentar as notas fiscais ao Ipasgo a fim de obter o reembolso. Os novos planos não apresentam essa possibilidade, tendo apenas abrangência estadual e no Distrito Federal.
Prós
Em contrapartida, quem aderir ou migrar para os novos planos terá uma gama maior de serviços à disposição. Pelos planos Básico e Especial, são oferecidos 3,9 mil procedimentos. Nos planos Cerrado e Família, são 5,8 mil, um acréscimo de 1,9 mil. Dentre os novos procedimentos, constam alguns com alta demanda como, por exemplo, a dosagem de vitamina D e a inserção de dispositivo intrauterino (DIU), além de outros de alto custo, como o tratamento com o medicamento pembrolizumabe para pacientes oncológicos.
Luz destaca que o fato desses planos serem regulados pela ANS também é um ponto positivo para os usuários. “Diferentemente dos planos antigos, existe uma estrutura de controle maior por parte da ANS, com regras para absolutamente tudo como, por exemplo, uma delimitação do prazo máximo que eu tenho para atender alguém”, diz o diretor de Relacionamento e Produtos do Ipasgo.
Nos planos Cerrado e Família também existe um limite de coparticipação por procedimento. Atualmente, todos os planos do Ipasgo contam com coparticipação de 30%. Entretanto, os usuários dos novos planos terão a coparticipação limitada em R$ 150 por procedimento. Isso significa que caso um procedimento custe R$ 1 mil, o usuário pagará R$ 150 ao invés de R$ 300, como fazem os usuários dos planos Básico e Especial. Ainda, quem for usuário dos novos planos não terá de pagar coparticipação para procedimentos como hemodiálise, quimioterapia e radioterapia.
Além disso, o governo estadual vai subsidiar com R$ 100 a mensalidade de quem usar o plano Cerrado.Isso significa que um usuário com idade entre 29 e 33 anos pagará R$ 221 por mês ao invés de R$ 321. 0 subsídio também será oferecido para cônjuge e filhos. Para os usuários dos planos Básico e Especial que não têm interesse em migrar para os novos planos, também será oferecida a opção de incluir familiares de terceiro grau no plano Família sem que o servidor também tenha de mudar para algum dos novos produtos.
Transição
Tanto a mudança para um Serviço Social Autônomo (SSA) quanto a cobrança via tabela atuarial têm sido apresentadas pelo Ipasgo ao longo dos últimos anos como necessárias para a sustentabilidade financeira do serviço. A migração dos usuários dos planos Básico e Especial para algum dos novos planos não é obrigatória. Para estimular os servidores, foram oferecidas carências zeradas para quem aderir e/ou migrar para algum dos dois novos planos em até 30 dias.
Durante o período de transição do Ipasgo para uma SSA, as adesões de novos beneficiários foram congeladas (com exceção de filhos e novo cônjuge) por exigências da ANS. Os planos antigos são aqueles em que os convênios foram celebrados até o registro do Ipasgo na ANS, em outubro de 2024. 0 diretor de Relacionamento e Produtos estima que 2,8 mil servidores elegíveis ao Ipasgo entraram no governo durante o período de congelamento. “O número não leva em conta cônjuges e filhos”, frisa Luz.
Essas pessoas não têm a opção de aderir aos planos Básico e Especial, apenas aos novos planos. De acordo com o Ipasgo Saúde, somente nesta quarta-feira (30) foram mais de cem demandas de adesão e/ou migração.
Reclamações
Os novos planos do Ipasgo foram recebidos com espanto pelos usuários, que reclamaram dos preços nas redes sociais do serviço. “E essa nova tabela? Sem noção! Um absurdo”, comentou uma pessoa no perfil do Ipasgo no Instagram. O presidente da Associação dos Subtenentes e Sargentos do Estado de Goiás (Assego), subtenente Sérgio de Souza, destaca que frequentemente recebe relatos de insatisfação dos usuários quanto aos serviços do Ipasgo e que, por esse motivo, não existe perspectiva de novas adesões.
Para Souza, os novos valores e benefícios parecem até querer “forçar” a migração dos usuários para os novos planos, mesmo que até o momento essa mudança não seja obrigatória. Ele ainda ressalta que, como o Ipasgo sempre foi mantido integralmente com o salário dos beneficiários, o subsídio do governo estadual ressoa de forma estranha.
Na interpretação do presidente da Assego, as decisões relacionadas ao Ipasgo são tomadas sem a participação dos usuários, o que o incomoda. “O sentimento é de insegurança”‘, pontua. Devido ao contexto, Souza conta que a Assego estuda a possibilidade de construir um plano de saúde do zero para os servidores ligados à associação.