A CASA DO SERVIDOR DA JUSTIÇA

Noticias | Informe-se

Conciliação entre produtividade e bem-estar

Por Otto Maia
O teletrabalho tem entre suas finalidades, duas principais, que estimulam seu vertiginoso crescimento: aumento da produtividade da organização e bem-estar do servidor. Mas, para esses fatores convergirem, faz-se necessária a implementação de adequadas políticas públicas a respeito e a conscientização de todos os envolvidos.

Essa modalidade de trabalho tem, em tese, a possibilidade de proporcionar um contato mais intenso com a família e maior qualidade de vida em razão do fim dos deslocamentos. Mas existem alguns desafios de adaptação que exigem a disciplina do servidor e o comprometimento e apoio da organização com a saúde daqueles.

A falta de contato humano direto é um ponto negativo, cabendo aos servidores e gestores, de forma consciente, aprimorar o uso dos meios de comunicação tecnológicos disponíveis para compensar esta falta, estimular a comunicação de grupo e entre os colegas, para colaborar com a qualidade das relações de trabalho, possibilitando que a cooperação interna continue ativa.

O período de isolamento social tem evidenciado as dificuldades que as pessoas estão enfrentando para a organização da rotina em casa, notadamente pelo acúmulo de atividades que demandam atenção simultânea. Há uma cultura de produtividade ressoando nos nossos ouvidos (“o tempo urge!”) e somos induzidos a responder com rapidez a todas as demandas.

Ainda que saibamos que é mais saudável realizar uma atividade por vez, continuamos a fazer várias coisas ao mesmo tempo. Multiplicidade e concomitância geram um impacto na percepção dos indivíduos, causam confusão e estresse e dificuldade para conciliar as atividades do trabalho com as obrigações domésticas, como o cuidado e educação dos filhos, lazer, atividades físicas, todas exercidas no espaço domiciliar. Por isso, é importante adaptar os espaços destinados a cada atividade, colaborando assim para a concentração e o foco.

A capacidade de discernimento das pessoas é levada à exaustão devido a quantidade de informação e de estímulos que circulam pela internet. Um perigo dessa hiperconexão é a ausência de delimitação de fronteiras. O espaço e o tempo das diversas atividades se confundem, gerando instabilidade das relações, desgastes emocionais, sobrecarga mental, perda de concentração e eficiência. Estabelecer as fronteiras espaço-temporais do trabalho, da convivência familiar, da alimentação e do entretenimento é um grande desafio nesse mundo de compartilhamento simultâneo de informações. São limites muito difíceis de estabelecer, pois os mesmos dispositivos que são usados para o trabalho são também utilizados para o lazer e para contatos afetivos, ainda que virtuais. Então, nesse mundo multifuncional, é necessário um esforço consciente para tentar fazer uma coisa de cada vez. Isso pode parecer inviável, mas começar a estabelecer alguns limites é um importante passo para evitar o adoecimento.

Diante disso, fica a reflexão sobre a pertinência de padronizar e estimular o uso dos canais de comunicação oficiais nas organizações (como o e-mail corporativo), tanto pela segurança, quanto para concentrar os dados e a atenção das pessoas.

Através de diversas telas, acompanhamos um enorme fluxo de dados que transita através da internet, mas temos sempre que lembrar que somos humanos, e não podemos nos exigir acompanhar tudo simultaneamente e com a mesma velocidade das máquinas, sob pena de prejudicar nossa saúde.

A organização dos horários de trabalho deve considerar a realidade de cada indivíduo e a natureza da atividade. A forma e o horário de comunicação entre chefes e subordinados e entre colegas deve ser previamente organizada, para viabilizar a cooperação sem invadir a rotina domiciliar, assim como esta precisa ser planejada para não atrapalhar o trabalho. Mais do que nunca, somos gestores do tempo. Ganhamos mais autonomia e também mais responsabilidade. Cada unidade tem suas particularidades pela dinâmica de trabalho, pelas peculiaridades dos indivíduos que a compõe e pelo perfil do gestor.  

Portanto, quando a comunicação for necessária, deve-se privilegiar sua qualidade. Utilizar, de preferência, os dias úteis (excetuado os plantões), respeitando os dias de descanso e adotar de preferência o horário comercial ou outro horário acordado diante de necessidades pontuais. Assim, busca-se resguardar a saúde e bem-estar de todos. Nesse sentido, já se discute nos debates sobre saúde e teletrabalho o direito à desconexão, que deve ser respeitado pelas organizações que promovem essa modalidade de trabalho. Entretanto, é importante que se reconheça que esse também se trata de um desafio individual, de gestores e servidores, do reconhecimento dos limites próprios e alheios, que devemos observar diariamente com empatia, respeito e disciplina.

A produtividade de médio e longo prazo será o resultado natural de uma pessoa que vive uma vida equilibrada, dando atenção a suas necessidades fisiológicas, ambientais e afetivas, pois estabelece uma base segura para o desenvolvimento dos impulsos criativos. Já a produtividade movida pelo medo ou pela ambição, que não respeita os limites do corpo e não oferece nutrição adequada às relações afetivas, pode iludir e ser interpretada como um indicativo positivo a curto prazo, mas redundará em graves perdas, tanto para o indivíduo quanto para as organizações.

Por isso, tão estratégico quanto ficar antenado e cumprir metas é oportunizar a si mesmo um tempo no modo analógico, uma transição consciente entre as atividades da rotina, uma atenção em separado para cada atividade, intervalos de descanso e uma comunicação com menos ansiedade e mais qualidade. Esses são pontos fundamentais para parar de enfrentar a rotina, passando a protagonista na sua realização.


Fonte: Otto Maia é Vice-Presidente para Assuntos Esportivos e Socioculturais do SINDJUSTIÇA
Wildcard SSL Certificates